As histórias de ambição desenfreada são comuns na
ficção, e o personagem ganancioso, quase sempre, acaba mal. Na vida real,
pessoas que têm essa característica também têm tudo para ter um final infeliz.
E não é errado ambicionar promoções e aumentos salariais. Ao contrário: a
ambição é valorizada pelas empresas. Mas, quando passa dos limites, deixa de
ser qualidade e passa a ser defeito, prejudicando o profissional que, mesmo
tendo talento e boas chances de crescimento, acaba malvisto no trabalho e até
no mercado em que atua.
A
importância da ambição
"A ambição faz bem. No cenário atual do mundo
corporativo, onde impera o dinamismo e a inovação, não enfrentar desafios não é
a melhor escolha. Se não houver ambição, a tendência de acomodar-se é
maior. Para quem anseia um lugar de destaque no mercado é necessário assumir
riscos", diz Fernanda Campos, diretora-executiva de desenvolvimento de
negócios da Mariaca, empresa de recrutamento de profissionais e consultoria de
carreira.
Ao concordar sobre a importância da ambição
profissional, Sílvio Celestino –sócio-fundador da Alliance Coaching– explica
que ela é um dos propósitos de uma corporação. "Toda empresa quer crescer,
assumir novas responsabilidades. Portanto, se o profissional não se preocupa em
se desenvolver, está desalinhado com a empresa e acabará perdendo o emprego.
Tem gente que só consegue trabalhar em lugares pequenos justamente por causa da
falta de ambição".
De
qualidade a defeito
Mas se a ambição é estimulada no ambiente
corporativo, como saber quando ela passa a ser prejudicial? A resposta é
simples: quando a pessoa deixa a ética de lado e quer se dar bem a qualquer
preço. Nesta caso, a ambição se transforma em ganância. "É uma qualidade
quando serve para direcionar a pessoa, definir objetivos. A ambição é propulsão
para vencer na vida, ao contrário da ganância, que cega a pessoa para valores
morais e éticos", explica a psicóloga e psicoterapeuta Triana Portal,
pós-graduada em Psicologia Clínica na USP e com extensão na Emory University,
nos Estados Unidos.
A ambição também se torna uma característica
perigosa quando é controlada pelo ego, segundo o psicólogo Fábio Munhoz, membro
do IPPA (International Positive Psychology Association) e conselheiro da APPAL
(Associação de Psicologia Positiva da América Latina). "Se for invadida
por questões do ego, da pessoa querer ser melhor e mais bem-sucedida de
qualquer jeito, ela passa a ser perigosa. O ego faz com que a pessoa trace
metas irreais, fazendo com que ela passe por cima do que é certo", fala.
"Regido pelo egoísmo, o ganancioso passa a tratar os outros como peças a
serem manipuladas", continua a psicóloga Triana.
Encontre
o equilíbrio
Para saber se a ambição passou do normal e se
tornou prejudicial ao próprio ambicioso, Fernanda Campos recomenda analisar
três pontos: "Se o profissional pensa apenas em buscar a satisfação
financeira; se há sobrecarga de tarefas e quando a obstinação e anseios são tão
grandes que afetam sua qualidade de vida e seus relacionamentos".
Encontrar o equilíbrio em uma sociedade que
promove a cultura do "levar vantagem" é difícil, mas não é
impossível. "Muitos veem como normal explorar o outro em benefício
próprio. A competitividade distorce a ética, principalmente quando a pessoa já
sabe o gosto do sucesso, do dinheiro. Mas olhe ao seu redor e avalie o que você
realmente tem. Seus filhos estão felizes? Você tem amigos? Tem tempo livre para
o lazer e vida pessoal? É uma pessoa querida pela maioria das pessoas? Quem
convive com você é o melhor termômetro para lhe dizer se suas atitudes são
equilibradas", diz Triana.
Outro ponto fundamental é pensar em sua carreira
sem esquecer de se imaginar no futuro. "A ambição deve ser realista,
galgada em passos e as pequenas vitórias devem ser valorizadas. Escalone sua
ambição e trace as metas sem pressa", afirma Fábio Munhoz. "Pense a
longo prazo, pois uma pessoa de 30 anos, por exemplo, ainda tem muito tempo
pela frente e a pior coisa que pode acontecer é descobrirem que ela não é
ética. Inicialmente, o ganancioso pode até se dar bem, mas uma hora a situação
se reverte", afirma Celestino.
Além de saber onde quer chegar sem atropelar etapas, é imprescindível sempre buscar conhecimento e melhorar as capacidades. "O equilíbrio certo vem com um bom planejamento ao longo de sua trajetória profissional, sempre monitorando a própria carreira e buscando constante aprimoramento", finaliza Fernanda Campos.
Além de saber onde quer chegar sem atropelar etapas, é imprescindível sempre buscar conhecimento e melhorar as capacidades. "O equilíbrio certo vem com um bom planejamento ao longo de sua trajetória profissional, sempre monitorando a própria carreira e buscando constante aprimoramento", finaliza Fernanda Campos.
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