Estudantes
protestam, durante a última edição da São Paulo Fashion Week, pela falta de
negros nos desfiles promovidos pelas grifes
Discussão
sobre a população negra no Brasil ganha cada vez mais o olhar da sociedade como
um todo
Na próxima terça-feira (20), a cidade de São Paulo
e outros 779 municípios brasileiros — de acordo com dados da Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), comemoram o Dia da
Consciência Negra. A escolha da data é uma homenagem a Zumbi dos Palmares,
morto em 20 de novembro de 1695. Zumbi foi um dos líderes do Quilombo dos
Palmares, localizado na Serra da Barriga, na divisa entre Alagoas e Pernambuco.
Atualmente, a discussão sobre a população negra no
Brasil ganha cada vez mais o olhar da sociedade como um todo, pois hoje,
segundo o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os negros são
a maioria da população brasileira.
Os dados são do último Censo Demográfico (2010):
de uma população estimada em 191 milhões de habitantes, 15 milhões se
classificaram como pretos (7,6%), e 82 milhões, como pardos (43,1%). Ou seja, a
população declarada negra (pretos e pardos) é de 50,7% do total.
Se, por um lado, algumas conquistas - como a Lei
10.639, de 09 de janeiro de 2003, que torna obrigatório o ensino de história e
cultura afro-brasileira e a sanção da Lei de Cotas— aparecem como resposta à
luta dos diversos movimentos ligados à causa negra, por outro lado, o Relatório
Anual das Desigualdades Raciais 2009-2010 apresenta dados em que os negros e
pardos estão mais vulneráveis em relação à segurança alimentar, possuem maior
defasagem escolar e recebem menor número de aposentadorias e pensões da
Previdência Social, para citar alguns dos itens que compõem o documento.
Até em relação ao acesso à Justiça, os negros
aparecem em desvantagem em relação aos brancos, segundo o relatório. No
documento, a maioria dos processos por crime de racismo julgados nos Tribunais
Regionais de Trabalho (TRTs) é vencida pelo réu da ação, não pela vítima.
Diante desse cenário, o Shopping News procurou algumas personalidades ligadas à
questão do negro do Brasil para comentarem as conquistas e as lutas nesses
quase 10 anos de implantação da Lei e para falarem sobre a importância e o
impacto do Dia da Consciência Negra na sociedade brasileira.
Opinião
Luiza Bairros - Ministra da Secretaria de
Políticas para a Promoção da Igualdade Racial (Seppir)
“Desde a experiência pioneira com ações
afirmativas da UERJ, em 2001, acumulamos uma rica e diversificada experiência
na institucionalização de políticas de ação afirmativa, no acesso à
universidade pública e privada, cujo exame crítico forneceria, ao se ouvirem
diretamente seus protagonistas e principais estudiosos, uma avaliação isenta de
preconceitos. Como já se disse, o preconceito é o obstáculo maior ao conhecimento.
O futuro, é preciso dizer, se vincula a esse passado imediato e
sistematicamente ignorado pelos críticos das ações afirmativas. Assim,
contrariamente às previsões de um futuro catastrófico, a última década mostrou
que o critério racial não exclui outros, até mesmo ajuda a promovê-los. Na
esteira da cota para negros, seguiram-se outros critérios e abriram-se
oportunidades de acesso a vários grupos excluídos. Esta é a verdade dos fatos. Por
último, importa considerar que se as ações afirmativas, como dizem seus
opositores, não passam de uma “medida paliativa”, não deixa de ser
significativa a reação prolongada e delirante de alguns setores para uma medida
que, por essa visão, encobre e dissimula, mas não ataca o mal que se precisa combater.”.
Frei David Santos - Diretor-executivo da rede de
cursinhos pré-vestibulares para afrodescendentes Educafro
“Esta data é primordial para o debate sobre a
importância das políticas públicas de ações afirmativas para a comunidade negra
e uma esperança no compromisso do presidente Lula de transformar esta data em
feriado nacional. Este ano a data é especial, pois, depois de 13 anos de árdua
luta, conquistamos as cotas nas universidades federais e esperamos conquistar,
ainda em 2012, uma ação do Governo do Estado de São Paulo que obriga a que as
universidades estaduais coloquem em prática políticas de inclusão. Esperamos
que a presidente Dilma crie 30% das vagas nos concursos públicos para negros, e
é nesse contexto que a Educafro estará em luta, usando como arma a busca por
justiça e tendo como pilares a figura de Zumbi, mártir de nosso povo negro. Por
muitos anos, no mês de abril celebramos Tiradentes, que também deu a sua vida
pela liberdade de um povo subjugado na época por Portugal, e Zumbi não foi
menos heroico, mas não teve reconhecimento igual. Por tudo isto a conquista do
dia 20 de novembro como feriado será uma ferramenta de ação afirmativa na
correção e valorização da figura de Zumbi!”
Júlio César Silva Santos - Coordenador do Núcleo
de Combate ao Racismo do Sindicato dos Bancários (NCRSB)
“A cultura bancária, baseada no acúmulo de
capital, é excludente”. A contratação de negros é muito pequena e quando existe
é em cargos em que não há visibilidade. No atendimento direto aos clientes o
banco ainda usa a teoria de que a imagem do negro não é ‘vendável’, como se ele
fosse invisível. Apenas 2,3% da categoria são pretos, e recebem em média 64,2%
do rendimento dos homens brancos, segundo dados do Mapa da Diversidade,
realizado pela FEBRABAN em 2008, e divulgado em 2009.
No dia 20 de novembro, o NCRSB traz a reflexão da
luta histórica do povo negro, em busca da igualdade de oportunidades, em todos
os aspectos inerentes e emancipação racial, tão sonhada, não somente no Brasil,
mas entre toda a humanidade. “Nosso intuito é demonstrar que não houve pacotes
de bondades aos negros, e a mobilização do NCRSB é essencial, para que ocorra a
inclusão de negros na categoria bancária, com possibilidade de ausência de
discriminação e com mobilidade profissional.”
Agenda
de atividades
Em meio às comemorações do Dia da Consciência
Negra, a cidade de São Paulo reserva uma agenda de atividades especiais. A
seguir, algumas dicas no roteiro da cidade.
Feira Preta 2012: A reta final da Feira Preta, que
trouxe em sua 11ª edição uma série de atividades e apresentações durante quatro
dias, promove a exposição de artes plásticas de Guilherme Scabim, Lançamento do
site Soul Brasil, exibição do filme “O Baile”. Destaque para os shows de
Emicida, Rael da Rima, Ogi e Mão de Oito, além do cantor Hyldon com o sambista
Carlos Dafé. Local: Casa das Caldeiras, a Avenida Francisco Matarazzo,
2.000; na Barra Funda. Dias 16 e 17.
Festa de premiação do Troféu Raça Negra – Tema
2012: “I have a dream”: A memorável frase do ícone negro, um dos mais importantes
líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, Martin
Luther King Jr., “I have a dream” é o tema da nona edição do Troféu Raça Negra
2012. Na festa serão premiadas as personalidades envolvidas com o tema. Local: Sala
São Paulo, na Praça Júlio Prestes, 16, Centro. Dia 19.
IX Marcha da Consciência Negra: Cotas pra Valer: Realizada
desde 2003, no protesto deste ano a marcha traz à tona o fato de que embora no
Brasil cerca de cem universidades públicas estaduais e federais tenham aderido
a políticas de cotas antes da aprovação da lei, as universidades paulistas
insistem em não aderir à política de cotas. Local: Museu de Arte de São Paulo
(MASP), à Avenida Paulista, 1.578, na Bela Vista.
Missa dedicada à Juventude Negra: Articulada pela
Pastoral Afro, uma das pastorais sob-responsabilidade do bispo auxiliar, dom
Milton Kenan Júnior, a juventude Negra, em especial a da cidade de São Paulo,
recebe as bênçãos da Igreja Católica. A missa, com o tema afro, atrai fiéis da
cidade inteira que aproveitam a ocasião para exibir suas vestimentas e entoar
cânticos em memória dos antepassados. Cadetral da Sé, na Praça da Sé,
s/n, Centro. Dia 20.
Dia da Consciência Negra no MIS– Uma Homenagem ao
Samba: O Museu da Imagem do Som (MIS) realiza, no Dia da Consciência Negra, um
tributo ao samba e choro com uma programação gratuita ao ar livre. Às 15h, o
grupo Cadeira de Balanço faz uma apresentação de choro em homenagem ao gênio da
música brasileira Pixinguinha. Já às 17h, o grupo acompanha a cantora Dona
Inah, principal atração do dia, em um show em homenagem a compositores e
intérpretes como Dona Ivone Lara, Cartola, Ataulfo Alves, Wilson das Neves e
Batatinha. A programação ainda conta com uma mostra de documentários sobre
grandes sambistas. Local: Av. Europa, 158, no Jardim Europa.
Lançamento do Programa Federal de Ações
Afirmativas: O Museu Afro Brasil recebe o lançamento das publicações que
compõem o Programa Federal de Ações Afirmativas. O evento é uma parceria entre
o Museu Afro, a Secretaria de Estado da Cultura, o Governo do Estado de São
Paulo e a Editora da Universidade de São Paulo. Na ocasião serão lançadas cinco
publicações, entre estudos e traduções, de um dos renomados estudiosos da
temática afro-brasileira: Carlos Eugênio Marcondes de Moura. Local: Museu Afro
Brasil. Parque do Ibirapuera, portão 10, no Ibirapuera. Dia 20.
Mês da Consciência Negra da Faculdade Zumbi dos
Palmares: A Faculdade Zumbi dos Palmares dedicou o mês da Consciência Negra
para um série de intensas atividades ligadas ao tema. Destaque para o batizado
de capoeira, a orientação jurídica gratuita, as rodas de conversa sobre
diversos assuntos e as apresentações de diversos sambistas e de escolas de
samba. Faculdade Zumbi dos Palmares. Avenida Santos Dumont, 843, Armênia.
Dia 20.
I Seminário Negro Plural: Núcleo de Combate ao
Racismo do Sindicato dos Bancários, o Instituto Luiz Gama e a Central Única dos
Trabalhadores (CUT) dedicam um dia inteiro para discutir temas como educação,
política e segurança pública, reunindo especialistas e autoridades ligadas ao
tema. O Seminário intitulado Negro Plural colocará em debate a real
situação do negro na sociedade atual. Sesc Vila Mariana. Rua Pelotas,
141, na Vila Mariana. Dia 29.
Exposição “Gênese e Celebração: Coleção de peças
africanas do acervo de Rogério Cerqueira Leite”: Em cartaz na Pinacoteca do
Estado de São Paulo do dia 10 ao dia 27 de janeiro de 2013, a exposição “Gênese
e Celebração: Coleção de peças africanas do acervo de Rogério Cerqueira Leite”
traz cerca de 200 peças, entre as quais merecem menção esculturas, máscaras,
objetos de materiais e tamanhos variados de povos como os dan, baolé, anang,
yoruba, bulu, moba, pende, bantu, pumu, fang, dogon e sakuma, entre outros. Uma
oportunidade única para que o público possa conhecer um pouco mais sobre a
diversidade cultural desses diferentes grupos étnicos. Pinacoteca do Estado.
Praça da luz, 2, Centro.
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